5 perguntas para Thedy Corrêa, do Nenhum de Nós
Depois de emplacar grandes sucessos na década de 1980, os gaúchos do Nenhum de Nós atravessaram os anos seguintes trabalhando sem tantos holofotes, mas com bons resultados. Em especial no décimo-quarto disco da banda, “Contos de Água e Fogo”, lançado esse ano pelo selo Imã Records, com um belo trabalho de guitarras que remete aos melhores momentos de bandas como Teenage Fanclub e Dinosaur Jr.
Conversamos com o guitarrista e vocalista Thedy Corrêa para saber mais sobre o disco, o momento da banda e saber o que ele acha das piadas que fazem sobre uma velha versão de David Bowie que a banda fez no auge do sucesso:
1. Se vocês estivessem lançando esse disco como uma banda nova, com outro nome, sem a carga histórica, seria mais fácil fazer mais pessoas ouvirem?
Boa pergunta, não sei como trabalhar, fico pensando aqui qual seria uma banda nova hoje que tem uma carreira paralela, similar à nossa que poderia atingir isso. Acho difícil conseguir fazer essa avaliação porque não consigo encontrar uma cena voltada para esse tipo de música. Acho que a gente ia ficar meio num limbo porque não tem muito esse tipo de música no Brasil. Hoje seria difícil encontrar esse espaço.
2. Ao mesmo tempo o disco emula algumas coisas de college rock, como Teenage Fanclub, especialmente no trabalho de guitarras, que por outro lado é uma influência para muitas bandas novas. Você ouviu muita coisa do que está acontecendo no mundo para fazer esse disco?
Eu adoro Teenage Fanclub, não é qualquer um que consegue perceber essa influência. Eu sou um ávido pesquisador do que está rolando, estou sempre atrás. De alguma maneira, podem me acrescentar alguma coisa, posso usar isso como matéria-prima para a minha música, para o que estou querendo fazer. Eu não sou o tipo de cara que se acomoda, muito pelo contrário, estou sempre comprando revistas importadas para dar uma olhada no que está surgindo, nas bandas que estão fazendo alguma coisa diferente.
3. Algum artista em particular fez a sua cabeça durante a composição desse novo disco?
Por incrível que pareça, tem uma série de bandas de uma onda meio folk que está rolando, e que eu usei muito para o trabalho de vocais, tipo MidLake e Band of Horses. Acho até que num próximo disco essa pegada estará mais evidente, porque tem muita coisa desse som que está vindo.
4. Pelo passado de hits que vocês tiveram, você percebe que ainda há uma parcela nostálgica no público de vocês?
Acho que a gente tem de erguer as mãos para o céu, porque conseguimos um negócio difícil, que é renovar o nosso público. Semana passada, a gente tocou em Ouro Preto na calourada da universidade federal de lá, só para a gurizada, e tinham quatro mil pessoas. Em Goiânia a gente também tocou num evento do campus da universidade para oito mil pessoas. E esse é um público muito jovem, gente que ouve o que está rolando hoje e não se identifica tanto assim e que, quando ouve uma música do Nenhum de Nós, gosta e acha que aquela banda tem a ver, se conecta com a gente, mesmo que tenhamos começado há tanto tempo. A gente não sobrevive de nostalgia, graças a Deus.
5. Uma das canções mais famosas na história do Nenhum de Nós é a versão da banda para “Starman”, do David Bowie, renomeada “O Astronauta de Mármore”. E uma das piadas mais recorrentes com a banda é a tentativa de decifrar uma letra tida como completamente nonsense. A letra faz sentido?
Ela tem sentido sim, e quem fala que a letra é nonsense é porque é burro e não estudou (Nota: mais tarde, Thedy registrou que não teve a intenção de chamar ninguém de burro). A obra tem frases de músicas do David Bowie dentro da letra. O astronauta é o Major Tom, personagem criado pelo Bowie. Tudo ali tem uma consequência e uma lógica e é coisa de fã, de nerd que foi lá e fez um trabalho milimétrico. Quem diz isso não sabe o que está falando, não sabe ler. “Quero um machado pra quebrar o gelo” está numa música do Bowie, “Ashes to Ashes”, é uma tradução literal, por exemplo. [Fonte: Revista Playboy]
Nenhum De Nós - Camila Camila - ao vivo
Camila Camila
Nenhum de Nós
Composição: Carlos Stein / Sady Hömrich / Thedy Corrêa
Depois da última noite de festa
Chorando e esperando amanhecer, amanhecer
As coisas aconteciam com alguma explicação
Com alguma explicação
Depois da última noite de chuva
Chorando e esperando amanhecer, amanhecer
Às vezes peço a ele que vá embora
Que vá embora
Camila
Camila, Camila
Eu que tenho medo até de suas mãos
Mas o ódio cega e você não percebe
Mas o ódio cega
E eu que tenho medo até do seu olhar
Mas o ódio cega e você não percebe
Mas o ódio cega
A lembrança do silêncio
Daquelas tardes, daquelas tardes
Da vergonha do espelho
Naquelas marcas, naquelas marcas
Havia algo de insano
Naqueles olhos, olhos insanos
Os olhos que passavam o dia
A me vigiar, a me vigiar
Camila
Camila, Camila
E eu que tinha apenas 17 anos
Baixava a minha cabeça pra tudo
Era assim que as coisas aconteciam
Era assim que eu via tudo acontecer