quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Lafayette Os Tremendões, o Rei dos Bailes em tons mais modernos

 (Fonte:  A Gazeta) Tiago Zanoli 
O que seriam dos sucessos da Jovem Guarda sem o som marcante do órgão Hammond B-3 de Lafayette Coelho? Considerado o Rei dos Bailes nos anos 60, o instrumentista ajudou a definir a sonoridade daquele movimento e gravou com nomes de peso, a exemplo de Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa. Como a maioria dos músicos, passou as últimas décadas tirando seu sustento de pequenos shows em bailes e restaurantes.



Foi numa dessas ocasiões, no Caneco 90 – uma casa de shows de São Gonçalo (RJ) –, que conheceu Gabriel Thomaz (guitarrista e vocalista da banda Autoramas). O jovem apareceu com uma pilha de discos para Lafayette autografar e a ideia de formarem uma banda. Assim, em 2005, nascia o grupo Lafayette Os Tremendões, que acaba de lançar seu primeiro álbum, “As 15 Super Quentes”.

A banda passou quatro anos fazendo inúmeras apresentações pelo país, revivendo os bailes dos anos 60, e reúne integrantes de diversos grupos: Nervoso, voz e guitarra (Nervoso Os Calmantes); Renato Martins, voz e guitarra (Canastra); Érika Martins, voz e percussão (ex-Penélope); Melvin Fleming, baixista (Carbona) e Marcello Callado, bateria (Do Amor).

Sucessos 
Com a missão de selecionar os 15 maiores hits presentes no repertório dos shows, daí o título do álbum, a turma do Lafayette Os Tremendões registrou no disco canções inesquecíveis – a maior parte delas eternizada na voz do Rei Roberto Carlos, nenhuma, entretanto, foi composta por ele –, como “Você Não Serve Pra Mim” (Renato Barros), “Nossa Canção” (Luiz Ayrão) e “Força Estranha” (Caetano Veloso).

Duas faixas nunca haviam sido regravadas antes, a exemplo de “Eu e Você” (Vitor Trucco/ Fábio Block), da banda psicodélica The Brazilian Bitles, e “Vou Botar Pra Quebrar”, que foi sucesso na voz da cantora Silvinha (1951-2008). O disco conta também com “Je t’Aime... Moi Non Plus”, de Serge Gainsbourg, ícone da chanson francesa.

A banda é bastante competente na execução das canções, com exceção dos vocais sofríveis de Érika Martins, e optou por arranjos que preservaram a simplicidade original das composições – em vez de releituras mais sofisticadas, como fizeram muitos artistas, em 1994, para o álbum “Rei”, em tributo a dupla Roberto e Erasmo.

É claro que as músicas ganharam uma cara mais moderna, e a qualidade da gravação é impecavelmente limpa. Bom para a garotada que curte a cena pop rock contemporânea. Por outro lado, ruim para quem aprecia os timbres mais sujos das gravações antigas. Se, nos tempos da Jovem Guarda, o som do órgão de Lafayette se destacava dos demais instrumentos, em “As 15 Super Quentes” ele soa bem mais discreto.

Nada disso, no entanto, desqualifica o trabalho dessa trupe, que disponibilizou um aperitivo na internet. No site www.myspace.com
/lafayetteeostremendoes, é possível ouvir algumas músicas e também vídeos com apresentações do grupo. Ao que parece, se o disco é bom, o show é ainda melhor.









Ouça sem parar 
Lafayette Os Tremendões - As 15 Super Quentes

Arterial Music 15 faixas
Quanto: R$ 28, em média

Homenagem a Michael Jackson 

O cantor Michael Jackson receberá uma homenagem póstuma durante a cerimônia de entrega do Grammy 2010, no próximo dia 31. O tributo vai incluir um videoclipe em 3D da canção “Earth Song”, originalmente produzido para a série de shows que o Rei do Pop faria em Londres.

Banda lança disco inédito neste ano 

Mesmo depois de ter anunciado sua despedida dos palcos e o fim das turnês no ano passado, Trent Reznor, cantor e líder da banda norte-americana Nine Inch Nails, afirmou que o grupo vai gravar novo material ainda em 2010. A confirmação veio através de uma mensagem postada pelo cantor no site oficial da banda. “Há uma série de planos para 2010, incluindo material inédito do Nine Inch Nails e outras coisas não relacionadas à banda. Estou numa fase de redescobertas e reinvenções que me parece incerta e nada familiar, mas é exatamente do que eu estou precisando”, escreveu Reznor.

LANÇAMENTOS 

Pouca Vogal - Ao Vivo em Porto AlegrE 
Som Livre 20 faixas
Quanto: R$ 25, em média
Amigos de longa data, Humberto Gessinger e Duca Leindecker uniram suas forças neste projeto que faz uma brincadeira com seus nomes, Pouca Vogal. Gravado ao vivo no ano passado, o disco traz releituras de músicas do Engenheiros e do Cidadão Quem (bandas deles) e inéditas. Acústico com belas melodias, arranjos e interpretações.

Étti Paganucci - Kaparaó 
Independente 11 faixas
Quanto: R$ 20, em média
Este é o primeiro disco do cantor, compositor e arranjador Étti Paganucci. Em “Kaparaó”, o músico contou com a produção do baixista Arthur Maia (Gilberto Gil, Marisa Monte). São 11 faixas, todas da autoria de Étti, que passeia pela MPB mais dançante, com acentuações regionais. Nele, também há parcerias com o poeta Miguel Marvilla, Arthur Maia e Cacala Carvalho.

Chris Brown - Graffiti 
Sony BMG 14 faixas
Quanto: R$ 25, em média
O cantor e compositor Chris Brown chega ao seu terceiro disco de estúdio repetindo produtores do anterior (“Exlusive”, de 2007), como Polow Da Don e Swizz Beatz, para tentar dar a volta por cima, depois da condenação por agressão à cantora Rihanna. Na mídia, o disco tem rendido mais polêmicas do que elogios. Nada de novo.

Mobilis stabilis - Andando no Arame 
Voiceprint 8 faixas
Quanto: R$ 25, em média
Este é o terceiro disco da banda instrumental Mobilis Stabilis. No disco, são 11 faixas produzidas pela própria banda com influências variadas que vão do rock progressivo à música indiana, passando pelo jazz fusion e o erudito. Participações de Edu Ardanuy (Dr.Sin), Faiska (Fagner, Ney Matogrosso, Rita Lee e Fabio Jr.) e Lee Marcucci (Rádio Táxi, Rita Lee, Titãs).

Mais pedidas - Last.fm 
1 - Bad Romance. Lady Gaga
2 - Tik Tok. Kesha
3 - Horchata. Vampire Weekend
4 - Uprising. Muse
5 - Crystalised. The XX
6 - Sex On Fire. Kings of Leon
7 - 1901. Phoenix
8 - Fireflies. Owl City
9 - Kids.MGMT
10 - I Gotta Feeling. Black Eyed Peas

C2 recomenda 
1 - Hoje, Não! Juliano Gauche e Duo Zebedeu. Patuléia Discos.
2 - Bandadois.Gilberto Gil. Warner.
3 - The Fame Monster. Lady Gaga. Universal.
4 - En Concert. Jack Johnson. Universal Music.
5 - MTV Apresenta. Autoramas. Promo
6 - Vagarosa. Céu. Promodisc.
7 - Minha Alma Canta. Tom Jobim. Biscoito Fino
8 - The Fall. Norah Jones. EMI
9 - It's not me, it's you. Lily Allen.
10 - She Wolf. Shakira. 






 (Fonte:  A Gazeta) Tiago Zanoli 

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Legião Urbana: Há 25 anos nascia um mito

Na primeira semana de 1985, o assunto era único: a abertura do Rock in Rio, o primeiro grande festival de pop-rock que aconteceria no país. Tudo bem, o Rock in Rio fez história, ninguém tem dúvidas disso. Mas, naquela mesma semana, uma banda de rock, que ainda nem sonhava em pisar no grandioso palco da Cidade do Rock em Jacarepaguá, também fazia história. E quanta história...




Vinte e cinco anos atrás, a Legião Urbana colocava nas lojas o seu primeiro álbum, após a forcinha dos amigos dos Paralamas do Sucesso, que insistiram que os executivos da gravadora EMI ouvissem a fita demo de Renato Russo & companhia. Levando o nome da banda em seu título, e embalado em uma simples capa branca com uma foto em preto-e-branco, que mal dava para ver direito o rosto dos integrantes da banda, o álbum já trazia tudo aquilo que faria da Legião Urbana a maior banda da história do Rock Brasil então emergente na década de 80: um rock rápido e enérgico com letras geniais e contestadoras e, claro, a voz de Renato Russo.

Aliás, o cantor e compositor já era bem conhecido em Brasília bem no início dos anos 80. A sua ex-banda, o Aborto Elétrico, já agitava a vida noturna dos "antenados" (?!?) da capital do país. E isso sem contar com a sua fase de "Trovador Solitário", quando mandou (pelo menos, em termos) o punk para aquele lugar, para se espelhar no início da carreira de Bob Dylan.

Mas quando lançou o primeiro álbum ao lado de Dado Villa-Lobos (guitarra), Marcelo Bonfá (bateria) e Renato Rocha (baixo), Renato Russo colocou Sex Pistols, Smiths, Police, U2, Joy Division e outras influências no seu caldeirão. O resultado pode ser visto em faixas como "Será", "A Dança", "Ainda É Cedo", "Perdidos No Espaço", entre outras. Produzido pelo jornalista José Emílio Rondeau, "Legião Urbana", apesar de ter vendido pouco na época de seu lançamento, hoje é um clássico.


O jornalista Arthur Dapieve, no livro "Renato Russo", que traça um perfil do compositor, sintetizou o álbum com a costumeira competência: "Suas músicas falavam de como crescer sem perder a inocência ('Será'); do descaso das autoridades com a juventude do país ('Petróleo do Futuro'); da falência do sistema educacional ('O Reggae'); da violência na televisão ('Baader-Meinhof Blues'); da confusão das drogas ('Perdidos no Espaço'). Estava tudo amarrado na cabeça de Renato, inclusive o final reflexivo com 'Por Enquanto', embora no começo ele tenha pensado em fechar o LP com 'Teorema'."

Disco de estreia simples e clássico. Uma boa receita para fazer história.


As músicas do primeiro disco: 

Será (D. Villa-Lobos/ R. Russo/M. Bonfá)

A Dança (D. Villa-Lobos/ R. Russo/M. Bonfá)


Fonte: SRZD
Petróleo do Futuro (D. Villa-Lobos/R. Russo)

Ainda É Cedo (D. Villa-Lobos/R. Russo/M. Bonfá/Ico Ouro-Preto)

Perdidos no Espaço (D. Villa-Lobos/ R. Russo/M. Bonfá)

Geração Coca-Cola (Renato Russo)

O Reggae (R. Russo/M. Bonfá)

Baader-Meinhof Blues (D. Villa-Lobos/ R. Russo/M. Bonfá)

Soldados (R. Russo/M. Bonfá)

Teorema (D. Villa-Lobos/R. Russo/M. Bonfá)

Por Enquanto (R. Russo)




Musical conta trajetória de Renato Russo e da Legião Urbana



A emoção vai tomar conta do Cine Nove de Abril na próxima quarta-feira. O motivo é o Cultura para Todos especial, que traz o musical contando a trajetória de vida do líder da Legião Urbana, Renato Russo. A apresentação acontece às 20 horas e a entrada será um litro de leite do tipo longa-vida para o espetáculo único. A distribuição dos ingressos acontece segunda e terça-feiras da próxima semana.
O monólogo, dirigido por Mauro Mendonça Filho (ator da Rede Globo), escrito por Daniela Pereira de Carvalho, conquistou em 2006, no Rio de Janeiro, o Prêmio Shell. Interpretando o líder da banda, Bruce Gomlevsky, que no palco dá voz a todas as canções, vida e arte de um dos maiores nomes do rock nacional.
Dono de uma personalidade indomável, porta-voz dos anseios, angústias, amores e valores de toda uma geração, ícone da história do rock brasileiro. O legado de Renato Russo, líder da banda Legião Urbana, é acompanhado
 por essas e outras definições, mesmo 11 anos após sua morte.
A banda Arte Profana acompanha Bruce Gomlevsky no palco, onde terá show, projeções, banda ao vivo e 22 músicas no roteiro, entre clássicos da Legião Urbana e outras lançadas em discos solo do cantor.
Bruce Gomlevsky
Ator, produtor e diretor, formado pela Casa das Artes de Laranjeiras, há 13 anos trabalha em teatro, cinema e televisão. Em cinema, ganhou o prêmio Candango de Melhor Ator de Curta-Metragem 35mm no 32 Festival de Cinema de Brasília, com o filme Cão-Guia (1999), de Gustavo Acioly, e com o filme Nada a Declarar (2004), do mesmo diretor.
Ganhou também o Prêmio de Melhor Ator de Curta-Metragem no Festival de Cinema de Vitória e no Festival de Cinema de Curitiba. Em papel de destaque, participou de quatro longa-metragens brasileiros: Quase Dois irmãos (2005), de Lúcia Murat, Deus é brasileiro (2003), de Carlos Diegues, Apolônio Brasil (2003), de Hugo Carvana e Lara (2002), de Ana Maria Magalhães.
Em 2005, Bruce protagonizou o episódio Vila prudente, do seriado Carandiru, Outras Histórias (Rede Globo), dirigido por Walter Carvalho e com direção geral de Hector Babenco e esteve em cartaz com as peças O rim, de Patrícia Mello, com direção de Elias Andreato e produção de Carolina Ferraz e Eduardo Barata e Alta tensão, texto e direção de Heloísa Perissé.
Em 2006, produziu e dirigiu, ao lado de Daniela Pereira de Carvalho, a peça Línguas estranhas, e idealizou e estreou o espetáculo Renato Russo, a peça, que está em cartaz em circuito nacional, com sucesso de público e crítica, desde então. (
avozdacidade.com)



Último show do Legião Urbana ocorreu há 15 anos

Folha Online

Há 15 anos, na casa "Reggae Night" de Santos, ocorria o último show do grupo "Legião Urbana". O show fazia parte da turnê do disco "O Descobrimento do Brasil" e era apenas mais um de uma série que Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá fariam.

Em determinado momento, uma lata de cerveja voou em direção ao palco. Um dos seguranças rapidamente a retirou para que Renato Russo não a visse. A segunda, porém, acertou o vocalista. Ele, então, deitou no chão e cantou nesta posição por 45 minutos. A produção teve certeza que não voltariam ao palco depois disso e, realmente, a turnê foi cancelada.

A banda já enfrentava problemas desde a turnê de "V", quando uma cena parecida com a ocorrida em 1995 em Santos também ocasionou o fim abrupto dos shows. O clima dos ensaios e bastidores estava pesado, discussões e desentendimentos ocorriam o tempo todo e o fim da banda parecia inevitável.

Surgida em Brasília, a "Legião Urbana" foi formada após o fim de "Aborto Elétrico", cujos outros integrantes formariam o "Capital Inicial" mais tarde. Os amigos que integravam o grupo reuniam-se para conversar e ouvir música em diferentes lugares da cidade. Como muitos dos moradores da capital federal daquela época, eram filhos de diplomatas ou de ocupantes de outros cargos públicos, encontravam-se tanto próximo da UnB, onde estudavam, quanto em mansões e embaixadas.

Renato, Dado e Bonfá ganharam fama nacional ao serem apadrinhados pelo "Os Paralamas do Sucesso", que levaram a canção "Geração Coca-Cola" para a sua gravadora escutar. Os shows reuniam fãs fervorosos, fazendo com que descrevessem as apresentações ao vivo deles como um verdadeiro culto. Após a separação, em 1995, Renato Russo ainda gravaria trabalhos solo, mas em 1996 perdeu sua luta contra a Aids.

Em 2009, foi lançado "Renato Russo - O Filho da Revolução". Com depoimentos, entrevistas e documentos inéditos, a obra escrita por Carlos Marcelo reconstrói a história do homem que marcou o rock brasileiro. Além do início da banda, Marcelo traça um perfil da cidade Brasília da época em que os integrantes destas bandas, ainda adolescentes, viviam lá. Leia abaixo trecho que mostra o cenário que permitiu o nascimento destes grupos:


Muitas vezes Renato ia a pé para uma das oito salas de cinema, instaladas no Setor de Diversões Sul. Já no Cine Karim, viu pela primeira vez o documentário Monterey Pop, com performances de Otis Redding, The Who e Jimi Hendrix. Um dia chamou o amigo Gustavo para ir até a maior sala da cidade, o Cine Atlântida. Queriam ver O exorcista, considerado o filme mais aterrorizante dos últimos tempos, expressamente proibido para menores de 18 anos. Franzinos, os garotos imberbes sabiam que seriam barrados na entrada. Não tiveram dúvidas. Subornaram o porteiro e conseguiram entrar. Sentaram na primeira fila. Não tiraram o olho da tela. Voltaram conversando sobre as cenas mais fortes de possessão da menina Regan pelo demônio. No dia seguinte, Renato confessou a Gustavo:

- Não consegui dormir, fiquei a noite inteira acordado.

Nas idas ao cinema ou ao curso de inglês, Renato Manfredini Júnior tentava apreender os segredos de Brasília. Mistérios que ainda causavam espanto tanto para os moradores quanto para os visitantes. "Parece incrível que Brasília, ao completar seu 14o aniversário como sede do governo da República, ainda esteja sujeita a periódicas crises de falta de confiança para cumprir os altos desígnios de seus construtores", observou o jornalista Tão Gomes Pinto em reportagem de capa da revista Veja, publicada em abril de 1974. Três meses depois, ao cumprir a promessa feita em 1962 e regressar à cidade, Clarice Lispector registrou no Jornal do Brasil a angústia de 48 horas transcorridas no Planalto: "Brasília é o mistério classificado em arquivos de aço. E eu, quem sou eu? Como me classificaram? Deram-me um número? Sinto-me numerificada e toda apertada."

Brasília é um futuro que aconteceu no passado. É o fracasso do sucesso mais espetacular do mundo. Brasília é uma estrela espatifada. Estou abismada.

Após afirmar ter voltado para o Rio de Janeiro "irremediavelmente impregnada por Brasília", Lispector confessou: "Prefiro o entrelaçamento carioca." Talvez porque as ruas da capital carecessem da capacidade de sintetizar a "expansão de todos os sentimentos da cidade", na célebre definição de João do Rio (1881-1921). Não tinham nascido "como o homem, do soluço, do espasmo" e por isso jamais poderiam ser consideradas "a mais igualitária, a mais socialista, a mais niveladora das obras humanas", como definiu o cronista em sucessão de textos publicados entre 1904 e 1907, pouco depois de a cidade fluminense se tornar a capital federal. Pelo contrário: as quadras brasilienses, apesar de parecidas no traçado, tinham ocupação estratificada de acordo com a atividade profissional dos moradores. Algumas exclusivas para parlamentares, outras para militares graduados, outras ainda para funcionários públicos - e os filhos dos ocupantes reproduziam fielmente, muitas vezes de forma violenta, a rígida hierarquia habitacional.

Renato sabia, por exemplo, que deveria tomar cuidado ao adentrar quadras vizinhas. Magro e baixinho, podia ser considerado vítima em potencial das constantes brigas entre jovens, muitas surgidas sem motivo aparente, quase sempre quadra-contra-quadra. Delimitação de território. A turma da 303 Sul, por exemplo, saiu várias vezes no braço com o pessoal da 305. A briga mais séria ocorreu depois que uma menina da quadra do Banco do Brasil foi abordada pela turma rival. Um cara da 303 partiu para cima dos invasores, que fugiram. Depois, montados em motos, garellis e mobiletes, voltaram com porretes e pedaços de pau. As duas turmas se juraram; o clima de tensão permaneceu por meses a fio. Muitas peladas na 303 acabaram após o alerta:

- Lá vem os caras da 305!

Todo mundo saía correndo, cada um para sua portaria, até cessar o perigo.

Além da violência latente, o sentimento de impunidade estava impregnado no cotidiano do Plano Piloto. Na entrada do Marista e de outros colégios como La Salle e Dom Bosco, uma procissão de carros oficiais se formava diariamente para levar e trazer os filhos de políticos e autoridades do governo. Dodge, Opala, Aero Willys, Galaxie... Carrões facilmente identificados pelas letras iniciais da placa (OF) e imunidade garantida por decreto:

- Os carros destinados aos serviços das altas autoridades da República são considerados de representação, identificados por chapas especiais, e isentos da fiscalização de uso.

Em Brasília, se todos eram igualmente imigrantes, uns podiam ser bem mais iguais que os outros. Estavam protegidos pela lei e pela função exercida. Até os motoristas viravam autoridade. Um deles, ao ser flagrado por uma equipe de jornalistas com o Dodge chapa-branca parado em frente ao colégio La Salle, ameaçou.

- Fotografou, apanhou. 



Postado por Joel no De Olhos: Imagens, vídeos, fotos e fatos

domingo, 17 de janeiro de 2010

Amado Batista: Meu Ex Amor

Meu Ex Amor
Amado Batista

Composição: Reginaldo Sodré / Amado Batista
Eu tive um amor
Amor tão bonito
Daqueles que matam
Com sabor de saudade
Meu ex-amor
Tem coisas que a gente não esquece
Mas você não merece
Tanta dor
Foi bonito demais
Mas eu estou sozinho
Fui rico de amor
E hoje estou tão só

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Morre o cantor Bobby Charles, autor de "See You Later Alligator"


O veterano cantor Bobby Charles, autor de clássicos sulinos americanos como "See You Later Alligator" e "Walking to New Orleans", morreu nesta quinta-feira aos 71 anos em sua casa em Abbeville, Luisiana.

Charles, cuja causa da morte não foi informada, tinha sofrido vários problemas de saúde nos últimos anos, incluindo câncer, diabetes, problemas na coluna e outros originados após uma queda.

Lenda do conhecido estilo "swamp pop", uma fusão da tradicional música cajun da Louisiana com rock and roll, folk e R&B, surgiu na cena musical na década dos 50 quando gravou "See You Later Alligator" (1955).

Esta canção chegou ao 14º lugar nas paradas de sucessos de Rhythm and Blues da época, apesar do tema ser popularizado um ano depois com Bill Haley e Seus Cometas, com uma versão mais pop.

Em 1960, outra de suas criações, "Walking to New Orleans" triunfaria com a voz de Fats Domino.

Bobby Charles estreou seu último trabalho próprio em 2008, "Homemade Songs", e terminava de fazer o álbum "Timeless", que será lançado em caráter póstumo no final de fevereiro.


da Efe, em Los Angeles

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Haiti - Caetano Veloso

Haiti
Caetano Veloso

Composição: Caetano Veloso e Gilberto Gil
Quando você for convidado pra subir no adro
Da fundação casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos e outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados
E não importa se os olhos do mundo inteiro
Possam estar por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados
E hoje um batuque um batuque
Com a pureza de meninos uniformizados de escola secundária
Em dia de parada
E a grandeza épica de um povo em formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula
Não importa nada:
Nem o traço do sobrado
Nem a lente do fantástico,
Nem o disco de Paul Simon
Ninguém, ninguém é cidadão
Se você for a festa do pelô, e se você não for
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui
E na TV se você vir um deputado em pânico mal dissimulado
Diante de qualquer, mas qualquer mesmo, qualquer, qualquer
Plano de educação que pareça fácil
Que pareça fácil e rápido
E vá representar uma ameaça de democratização
Do ensino do primeiro grau
E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital
E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto
E nenhum no marginal
E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
Notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco
Brilhante de lixo do Leblon
E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo
Diante da chacina
111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos
E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui