quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Top 10 discos mais equivocados da História


No rastro de ‘Lulu’, os dez discos mais equivocados da História
Álbum conceitual de Lou Reed e Metallica inspira a lista
Metallica e Lou Reed lançaram 'Lulu' em parceria: não combinou Reprodução

RIO - O anúncio de que Metallica e Lou Reed gravariam um álbum conceitual em parceria deixou muita gente de cabelo em pé. Não por desmerecer o grupo ou o artista, mas porque o thrash metal da banda californiana e o formalismo do líder do Velvet Underground simplesmente pareciam não combinar. “É como um iceberg tentando começar uma banda com o Titanic”, definiu Jason Heller no site Avclub. Duas semanas após o lançamento oficial de “Lulu”, os prognósticos se confirmaram: definitivamente, os sons não combinam, as críticas ao redor do mundo foram as piores possíveis e “Lulu” não para de apanhar. Inspirados pela equivocada empreitada deste dois medalhões, relembramos outros discos que já nasceram errados.

1. “Chinese democracy”, Guns N' Roses (2008)

Ok, o Guns 'N Roses já foi uma das maiores bandas do mundo e, nos tempos áureos, nos brindou com pérolas como “Appetite for destruction”. Mas isso não significa que Axl Rose pode abdicar de Slash, Duff e Izzy e demorar 15 anos para lançar um novo disco assim, como se nada tivesse acontecido. “Chinese democracy” virou piada graças às zilhares de promessas de lançamento. Também pudera, o disco começou a ser gravado em 1994, custou 13 (treze!) milhões de dólares, teve uma verdadeira dança das cadeiras em estúdio e levou o hard rock do Guns para um lado muito mais industrial. É por esses e tantos outros motivos (que não conseguiram ser amenizados com as boas vendagens) que “Chinese democracy” encabeça esta lista.

2. “Standing in the spotlight”, Dee Dee Ramone (1989)

O cara ganhou fama e notoriedade como guitarrista de uma das bandas pioneiras do punk-rock e resolve fazer o quê? Se lançar em carreira solo. Como rapper. Rebatizado Dee Dee King, Dee Dee Ramone lançou um álbum com o irônico título “Standing in the spotlight” (algo como “no centro das atenções”, em tradução livre), cujo “hit” (se é que podemos chamar assim) foi uma canção chamada “Funky man”. Apesar de refrões como “fa fa fa fa fa fa fa fa funky” e de dar pinta de gangsta com um boombox colado à orelha, o herói da adolescência de muito roqueiro ainda conseguiu convencer a musa Debbie Harry a participar de sua grotesca empreitada solo. “’Standing in the spotlight’ entra para os anais da cultura pop como um dos piores discos de todos os tempos”, detonou Matt Carlson, da enciclopédia online All Music Guide. Precisa de mais alguma coisa? Não, mas a gente lembra: até Dee Dee admitiu o erro durante seu depoimento no documentário “End of century”, sobre os Ramones. “Constrangedor” define.

3. “Ainda é cedo”, Nélson Gonçalves (1997)

Neste que foi o último disco de um glorioso currículo, o eterno boêmio (que também já foi boxeador) resolveu nocautear seus incautos seguidores e todos aqueles que, porventura, tiveram que ouvir alguma das suas gravações para “Ainda é cedo”. Como o nome denuncia, Gonçalves resolveu gravar, entre os mais de dois mil registros de sua extensa carreira, clássicos do BRock oitentista. E toma-lhe versão de Legião Urbana, Lulu Santos, Cazuza e Kid Abelha. Com todo o respeito que o crooner merece, sabe quando não funciona? Pois é, não funcionou. Com mais de 75 milhões (eu disse: setenta e cinco milhões) de cópias vendidas, ele definitivamente não precisava disso. Nós, muito menos.

4. “Self portrait”, Bob Dylan (1970)

O lendário crítico Greil Marcus começou sua resenha de “Self portrait” para a “Rolling Stone” com um indignado “que m**** é essa?”. E a pergunta paira no ar até hoje. Em um momento de piração, Bob Dylan resolveu lançar “Self portrait”, um disco duplo ironicamente recheado de músicas alheias. A junção de versões infelizes de pérolas do cancioneiro folk popular, sua voz extremamente anasalada e um punhado de faixas instrumentais não desceu bem. Na época do lançamento, houve quem pensasse que o bardo estivesse de brincadeira e, de acordo com o que o próprio declarou mais tarde, ele de fato estava. Dylan justificou o disco controverso como uma tentativa de se livrar do fardo de ser o portavoz de sua geração. Não adiantou muita coisa: o álbum incrivelmente vendeu vem, ele continuou no cargo que tanto detestava e agora carrega essa mancha no currículo.

5. “Cut the crap”, The Clash (1985)

Se Joe Strummer e Paul Simonon resolvessem seguir à risca o título do disco, eles jamais o teriam lançado e terminariam a carreira de forma muito mais digna, com “Combat rock”. Sem o guitarrista e compositor Mick Jones - “saído” após brigas e mais brigas com os outros integrantes - o Clash resolveu voltar ao básico e se dedicou à crueza dos três acordes, deixando o reggae de lado. O resultado foi tão desastroso que o disco sequer foi mencionado no documentário “Westway to the world” e acabou suprimido da coletânea e box lançados pela banda anos mais tarde. Segundo a revista “Q”, à época do relançamento (?) do disco, em 2000, “você não vai entrar em muitas brigas se disser por aí que esse é o pior disco do Clash”. Portanto, leitores, não nos culpem.

6. “Zaireeka”, The Flaming Lips (1997)


Se você contasse o conceito deste disco para sua avó, ela provavelmente diria que foi um “ideia de jerico”. Mas quem poderia julgá-la? Líder da banda americana, Wayne Coyne sempre fez o estilão gênio maluco e “Zaireeka” apenas serviu para comprovar esta teoria. O ambicioso projeto consistia no lançamento de um disco quádruplo, em que os CDs deveriam ser tocados simultaneamente, em aparelhos de som espalhados em diferentes ambientes, com até mesmo algumas caixas de som desligadas. Mesmo sendo completamente inacessível ao consumo popular e tendo mais regras que as aulas de etiqueta da Socila, “Zaireeka" acabou sendo lançado por uma grande gravadora e, pasmem, vendeu quase 30 mil cópias. Quem ouviu jura que o disco é bom. O difícil é achar quem tenha tido a disposição de reunir quatro aparelhos de som e outros três amigos para partilhar da estranha experiência. Pelo menos, o Flaming Lips se redimiu de tamanha maluquice lançando na sequência o aclamado “Soft bulletin”.

7. “Flush the fashion”, Alice Cooper (1980)

Ele vive dizendo por aí que não é mais aquele cara legal, mas bem que ele tentou ser. Influenciado pelos novos rumos que a música estava tomando no início da década de 80, o roqueirão resolveu lançar um álbum totalmente calcado na new wave. Isso mesmo que você leu: Alice Cooper e a new wave já viveram um caso de amor. O músico abandonou a cabeleira volumosa, adotou um portentoso topetão e encheu suas canções de teclados e sintetizadores. As letras? Bem, as letras falavam sobre a perda de identidade e interpretar outros papéis, como numa tentativa de justificar tamanha mudança sonora. O disco não é de todo ruim, os fãs gostam e até vendeu bem, ok, mas que é uma bizarrice, ah, isso é.

8. “Trans”, Neil Young (1982)

Ao assinar com a Geffen Records, Neil Young resolveu dar aos executivos um presente de boas vindas. Um presente de grego. Após receber US$ 1 milhão pela gravação, quantia generosa para a época, Young entregou “Trans”, um disco inspirado por Kraftwerk, mas com tanto vocoder e sintetizadores quanto um álbum de Britney Spears. Os fãs não entenderam nada (nem mesmo as letras, pois a maioria dos vocais foi distorcida a ponto de ficar incompreensível) e a gravadora muito menos. Há quem tenha considerado o disco uma piada de Young, mas David Geffen, o poderoso chefão do selo, não riu nadinha. Geffen processou Neil Young por lançar um disco tão pouco Neil Young - um álbum “nada comercial” e “nada representativo”, segundo os autos.

9. “Van Halen III”, do Van Halen (1998)

Não bastasse trocar Dave Lee Roth por Sammy Hagar, a família Van Halen resolveu tentar um terceiro vocalista. Por alguma pilha errada, escalaram Gary Cherone, colega de Nuno Bettencourt no Extreme, para assumir o posto. O que saiu da estranha parceria foi um disco que não tinha lá muito a ver com o Van Halen dos áureos tempos: baladas, músicas longas, experimentalismo... Apesar de ter originado o hit “Without you”, as vendagens foram mal em pleno auge da indústria fonográfica e nenhuma música do disco foi incluída na coletânea oficial do grupo, lançada em 2004. Talvez por trauma, talvez por desilusão, a banda nunca mais lançou nenhum disco de inéditas.

10. “The most wonderful time Of the year”, Scott Weiland (2011)

Toda a infinidade de discos natalinos lançada em todos esses anos desta indústria vital já nos deram a certeza: ninguém precisa de discos natalinos. E quando a gente achava que já tinha visto de tudo nesse gênero, eis que Scott Weiland resolve lançar seu próprio disco com standards sobre “a época mais maravilhosa do ano” (como ele mesmo diz no título do álbum). Você já imaginou ouvir o atormentado líder dos Stone Temple Pilots cantando “Noite feliz” acompanhado de uma orquestra? Pois é, no disco tem, mas será que você vai mesmo querer escutar isso?

* Colaborou Silvio Essinger



| O Globo

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