quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Legião Urbana: Há 25 anos nascia um mito

Na primeira semana de 1985, o assunto era único: a abertura do Rock in Rio, o primeiro grande festival de pop-rock que aconteceria no país. Tudo bem, o Rock in Rio fez história, ninguém tem dúvidas disso. Mas, naquela mesma semana, uma banda de rock, que ainda nem sonhava em pisar no grandioso palco da Cidade do Rock em Jacarepaguá, também fazia história. E quanta história...




Vinte e cinco anos atrás, a Legião Urbana colocava nas lojas o seu primeiro álbum, após a forcinha dos amigos dos Paralamas do Sucesso, que insistiram que os executivos da gravadora EMI ouvissem a fita demo de Renato Russo & companhia. Levando o nome da banda em seu título, e embalado em uma simples capa branca com uma foto em preto-e-branco, que mal dava para ver direito o rosto dos integrantes da banda, o álbum já trazia tudo aquilo que faria da Legião Urbana a maior banda da história do Rock Brasil então emergente na década de 80: um rock rápido e enérgico com letras geniais e contestadoras e, claro, a voz de Renato Russo.

Aliás, o cantor e compositor já era bem conhecido em Brasília bem no início dos anos 80. A sua ex-banda, o Aborto Elétrico, já agitava a vida noturna dos "antenados" (?!?) da capital do país. E isso sem contar com a sua fase de "Trovador Solitário", quando mandou (pelo menos, em termos) o punk para aquele lugar, para se espelhar no início da carreira de Bob Dylan.

Mas quando lançou o primeiro álbum ao lado de Dado Villa-Lobos (guitarra), Marcelo Bonfá (bateria) e Renato Rocha (baixo), Renato Russo colocou Sex Pistols, Smiths, Police, U2, Joy Division e outras influências no seu caldeirão. O resultado pode ser visto em faixas como "Será", "A Dança", "Ainda É Cedo", "Perdidos No Espaço", entre outras. Produzido pelo jornalista José Emílio Rondeau, "Legião Urbana", apesar de ter vendido pouco na época de seu lançamento, hoje é um clássico.


O jornalista Arthur Dapieve, no livro "Renato Russo", que traça um perfil do compositor, sintetizou o álbum com a costumeira competência: "Suas músicas falavam de como crescer sem perder a inocência ('Será'); do descaso das autoridades com a juventude do país ('Petróleo do Futuro'); da falência do sistema educacional ('O Reggae'); da violência na televisão ('Baader-Meinhof Blues'); da confusão das drogas ('Perdidos no Espaço'). Estava tudo amarrado na cabeça de Renato, inclusive o final reflexivo com 'Por Enquanto', embora no começo ele tenha pensado em fechar o LP com 'Teorema'."

Disco de estreia simples e clássico. Uma boa receita para fazer história.


As músicas do primeiro disco: 

Será (D. Villa-Lobos/ R. Russo/M. Bonfá)

A Dança (D. Villa-Lobos/ R. Russo/M. Bonfá)


Fonte: SRZD
Petróleo do Futuro (D. Villa-Lobos/R. Russo)

Ainda É Cedo (D. Villa-Lobos/R. Russo/M. Bonfá/Ico Ouro-Preto)

Perdidos no Espaço (D. Villa-Lobos/ R. Russo/M. Bonfá)

Geração Coca-Cola (Renato Russo)

O Reggae (R. Russo/M. Bonfá)

Baader-Meinhof Blues (D. Villa-Lobos/ R. Russo/M. Bonfá)

Soldados (R. Russo/M. Bonfá)

Teorema (D. Villa-Lobos/R. Russo/M. Bonfá)

Por Enquanto (R. Russo)




Musical conta trajetória de Renato Russo e da Legião Urbana



A emoção vai tomar conta do Cine Nove de Abril na próxima quarta-feira. O motivo é o Cultura para Todos especial, que traz o musical contando a trajetória de vida do líder da Legião Urbana, Renato Russo. A apresentação acontece às 20 horas e a entrada será um litro de leite do tipo longa-vida para o espetáculo único. A distribuição dos ingressos acontece segunda e terça-feiras da próxima semana.
O monólogo, dirigido por Mauro Mendonça Filho (ator da Rede Globo), escrito por Daniela Pereira de Carvalho, conquistou em 2006, no Rio de Janeiro, o Prêmio Shell. Interpretando o líder da banda, Bruce Gomlevsky, que no palco dá voz a todas as canções, vida e arte de um dos maiores nomes do rock nacional.
Dono de uma personalidade indomável, porta-voz dos anseios, angústias, amores e valores de toda uma geração, ícone da história do rock brasileiro. O legado de Renato Russo, líder da banda Legião Urbana, é acompanhado
 por essas e outras definições, mesmo 11 anos após sua morte.
A banda Arte Profana acompanha Bruce Gomlevsky no palco, onde terá show, projeções, banda ao vivo e 22 músicas no roteiro, entre clássicos da Legião Urbana e outras lançadas em discos solo do cantor.
Bruce Gomlevsky
Ator, produtor e diretor, formado pela Casa das Artes de Laranjeiras, há 13 anos trabalha em teatro, cinema e televisão. Em cinema, ganhou o prêmio Candango de Melhor Ator de Curta-Metragem 35mm no 32 Festival de Cinema de Brasília, com o filme Cão-Guia (1999), de Gustavo Acioly, e com o filme Nada a Declarar (2004), do mesmo diretor.
Ganhou também o Prêmio de Melhor Ator de Curta-Metragem no Festival de Cinema de Vitória e no Festival de Cinema de Curitiba. Em papel de destaque, participou de quatro longa-metragens brasileiros: Quase Dois irmãos (2005), de Lúcia Murat, Deus é brasileiro (2003), de Carlos Diegues, Apolônio Brasil (2003), de Hugo Carvana e Lara (2002), de Ana Maria Magalhães.
Em 2005, Bruce protagonizou o episódio Vila prudente, do seriado Carandiru, Outras Histórias (Rede Globo), dirigido por Walter Carvalho e com direção geral de Hector Babenco e esteve em cartaz com as peças O rim, de Patrícia Mello, com direção de Elias Andreato e produção de Carolina Ferraz e Eduardo Barata e Alta tensão, texto e direção de Heloísa Perissé.
Em 2006, produziu e dirigiu, ao lado de Daniela Pereira de Carvalho, a peça Línguas estranhas, e idealizou e estreou o espetáculo Renato Russo, a peça, que está em cartaz em circuito nacional, com sucesso de público e crítica, desde então. (
avozdacidade.com)



Último show do Legião Urbana ocorreu há 15 anos

Folha Online

Há 15 anos, na casa "Reggae Night" de Santos, ocorria o último show do grupo "Legião Urbana". O show fazia parte da turnê do disco "O Descobrimento do Brasil" e era apenas mais um de uma série que Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá fariam.

Em determinado momento, uma lata de cerveja voou em direção ao palco. Um dos seguranças rapidamente a retirou para que Renato Russo não a visse. A segunda, porém, acertou o vocalista. Ele, então, deitou no chão e cantou nesta posição por 45 minutos. A produção teve certeza que não voltariam ao palco depois disso e, realmente, a turnê foi cancelada.

A banda já enfrentava problemas desde a turnê de "V", quando uma cena parecida com a ocorrida em 1995 em Santos também ocasionou o fim abrupto dos shows. O clima dos ensaios e bastidores estava pesado, discussões e desentendimentos ocorriam o tempo todo e o fim da banda parecia inevitável.

Surgida em Brasília, a "Legião Urbana" foi formada após o fim de "Aborto Elétrico", cujos outros integrantes formariam o "Capital Inicial" mais tarde. Os amigos que integravam o grupo reuniam-se para conversar e ouvir música em diferentes lugares da cidade. Como muitos dos moradores da capital federal daquela época, eram filhos de diplomatas ou de ocupantes de outros cargos públicos, encontravam-se tanto próximo da UnB, onde estudavam, quanto em mansões e embaixadas.

Renato, Dado e Bonfá ganharam fama nacional ao serem apadrinhados pelo "Os Paralamas do Sucesso", que levaram a canção "Geração Coca-Cola" para a sua gravadora escutar. Os shows reuniam fãs fervorosos, fazendo com que descrevessem as apresentações ao vivo deles como um verdadeiro culto. Após a separação, em 1995, Renato Russo ainda gravaria trabalhos solo, mas em 1996 perdeu sua luta contra a Aids.

Em 2009, foi lançado "Renato Russo - O Filho da Revolução". Com depoimentos, entrevistas e documentos inéditos, a obra escrita por Carlos Marcelo reconstrói a história do homem que marcou o rock brasileiro. Além do início da banda, Marcelo traça um perfil da cidade Brasília da época em que os integrantes destas bandas, ainda adolescentes, viviam lá. Leia abaixo trecho que mostra o cenário que permitiu o nascimento destes grupos:


Muitas vezes Renato ia a pé para uma das oito salas de cinema, instaladas no Setor de Diversões Sul. Já no Cine Karim, viu pela primeira vez o documentário Monterey Pop, com performances de Otis Redding, The Who e Jimi Hendrix. Um dia chamou o amigo Gustavo para ir até a maior sala da cidade, o Cine Atlântida. Queriam ver O exorcista, considerado o filme mais aterrorizante dos últimos tempos, expressamente proibido para menores de 18 anos. Franzinos, os garotos imberbes sabiam que seriam barrados na entrada. Não tiveram dúvidas. Subornaram o porteiro e conseguiram entrar. Sentaram na primeira fila. Não tiraram o olho da tela. Voltaram conversando sobre as cenas mais fortes de possessão da menina Regan pelo demônio. No dia seguinte, Renato confessou a Gustavo:

- Não consegui dormir, fiquei a noite inteira acordado.

Nas idas ao cinema ou ao curso de inglês, Renato Manfredini Júnior tentava apreender os segredos de Brasília. Mistérios que ainda causavam espanto tanto para os moradores quanto para os visitantes. "Parece incrível que Brasília, ao completar seu 14o aniversário como sede do governo da República, ainda esteja sujeita a periódicas crises de falta de confiança para cumprir os altos desígnios de seus construtores", observou o jornalista Tão Gomes Pinto em reportagem de capa da revista Veja, publicada em abril de 1974. Três meses depois, ao cumprir a promessa feita em 1962 e regressar à cidade, Clarice Lispector registrou no Jornal do Brasil a angústia de 48 horas transcorridas no Planalto: "Brasília é o mistério classificado em arquivos de aço. E eu, quem sou eu? Como me classificaram? Deram-me um número? Sinto-me numerificada e toda apertada."

Brasília é um futuro que aconteceu no passado. É o fracasso do sucesso mais espetacular do mundo. Brasília é uma estrela espatifada. Estou abismada.

Após afirmar ter voltado para o Rio de Janeiro "irremediavelmente impregnada por Brasília", Lispector confessou: "Prefiro o entrelaçamento carioca." Talvez porque as ruas da capital carecessem da capacidade de sintetizar a "expansão de todos os sentimentos da cidade", na célebre definição de João do Rio (1881-1921). Não tinham nascido "como o homem, do soluço, do espasmo" e por isso jamais poderiam ser consideradas "a mais igualitária, a mais socialista, a mais niveladora das obras humanas", como definiu o cronista em sucessão de textos publicados entre 1904 e 1907, pouco depois de a cidade fluminense se tornar a capital federal. Pelo contrário: as quadras brasilienses, apesar de parecidas no traçado, tinham ocupação estratificada de acordo com a atividade profissional dos moradores. Algumas exclusivas para parlamentares, outras para militares graduados, outras ainda para funcionários públicos - e os filhos dos ocupantes reproduziam fielmente, muitas vezes de forma violenta, a rígida hierarquia habitacional.

Renato sabia, por exemplo, que deveria tomar cuidado ao adentrar quadras vizinhas. Magro e baixinho, podia ser considerado vítima em potencial das constantes brigas entre jovens, muitas surgidas sem motivo aparente, quase sempre quadra-contra-quadra. Delimitação de território. A turma da 303 Sul, por exemplo, saiu várias vezes no braço com o pessoal da 305. A briga mais séria ocorreu depois que uma menina da quadra do Banco do Brasil foi abordada pela turma rival. Um cara da 303 partiu para cima dos invasores, que fugiram. Depois, montados em motos, garellis e mobiletes, voltaram com porretes e pedaços de pau. As duas turmas se juraram; o clima de tensão permaneceu por meses a fio. Muitas peladas na 303 acabaram após o alerta:

- Lá vem os caras da 305!

Todo mundo saía correndo, cada um para sua portaria, até cessar o perigo.

Além da violência latente, o sentimento de impunidade estava impregnado no cotidiano do Plano Piloto. Na entrada do Marista e de outros colégios como La Salle e Dom Bosco, uma procissão de carros oficiais se formava diariamente para levar e trazer os filhos de políticos e autoridades do governo. Dodge, Opala, Aero Willys, Galaxie... Carrões facilmente identificados pelas letras iniciais da placa (OF) e imunidade garantida por decreto:

- Os carros destinados aos serviços das altas autoridades da República são considerados de representação, identificados por chapas especiais, e isentos da fiscalização de uso.

Em Brasília, se todos eram igualmente imigrantes, uns podiam ser bem mais iguais que os outros. Estavam protegidos pela lei e pela função exercida. Até os motoristas viravam autoridade. Um deles, ao ser flagrado por uma equipe de jornalistas com o Dodge chapa-branca parado em frente ao colégio La Salle, ameaçou.

- Fotografou, apanhou. 



Postado por Joel no De Olhos: Imagens, vídeos, fotos e fatos

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