(A Gazeta)
Thiago Ney São Paulo
Então Barack Obama vira o primeiro presidente negro dos Estados Unidos e a sociedade daquele país de uma hora para outra torna-se "pós-racial"? Bem, pelo menos no pop, a música norte-americana ultrapassou distinções de cor e raça há muito tempo - em grande parte, méritos de Michael Jackson.
Jackson talvez tenha ensinado uma ou duas coisas a Obama - não que o futuro presidente americano vá esbranquiçar a pele, mas muito antes dos primeiros discursos cheios de esperança do político de Chicago, uma família de Indiana já unia os corações e mentes (e passinhos de dança) da América.
Em 1958, Michael Jackson nascia na pequena cidade de Gary. Sétimo filho de Joseph Walter e Katherine Esther Jackson, ele foi dos últimos a entrar para o Jackson 5. Mais talentoso do clã, tornou-se o mais conhecido e polêmico.
Michael completou 50 anos em 2008 (em 29 de agosto) e entre os diversos produtos lançados para comemorar a data (e lucrar com ela), talvez o mais valioso seja "The Motown Years", um disco triplo com as principais músicas do Jackson 5 e de Michael em carreira solo, sob o guarda-chuva da Motown - mítica gravadora dos EUA que ajudou a impulsionar a carreira de artistas como Smokey Robinson, Stevie Wonder, The Supremes, entre outros.
Entre todos os apadrinhados da Motown, foram os Jackson 5 os responsáveis por quebrar a barreira entre negros e brancos no universo da música pop americana. Os irmãos, liderados pelo pai, ganharam contrato com a TV CBS para apresentar um programa de variedades - em junho de 1976, "The Jacksons" tornou-se o primeiro programa apresentado por uma família afro-americana.
Entre o final dos anos 1960 e meados dos anos 1970, a família Jackson interpretou um hit após o outro - o Jackson 5 entrou para a história como a primeira atração a ter seus quatro primeiros singles no topo da parada americana (com "I Want You Back", "ABC", "The Love You Save", "I'll Be There"). Essas quatro canções estão no álbum "Motown Years".
Apoiados por um time de compositores e produtores, o Jackson 5 produziu canções que emprestavam influências do funk e da soul music, mas já adiantava alguns passos do que seria feito anos depois, com a disco music.
E aí está a importância da banda hoje: se há 30 anos o Jackson 5 era considerado por muitos uma banda de "música negra", hoje percebe-se que o alcance do grupo é muito maior - não apenas na disco dos anos 1970, mas na house francesa, no tecno de Detroit, no pop de Justin Timberlake, Sam Sparro e Madonna.
O Jackson 5 seguiria fazendo shows até o final dos anos 1980, mas perdeu em criatividade com a saída de Michael, em 1984. O mais genioso dos irmãos iniciaria a carreira solo em 1972. Pela Motown, lançou quatro discos - o último, "Forever Michael", em 1975. Em seguida, deixou o selo e assinou com a major CBS. Ali, encontraria pela primeira vez o produtor Quincy Jones, com quem gravaria "Off the Wall", em 1979. Em 1982, viria o mega "Thriller". E a música pop ganhava, ali, um rei.
Ouça
Jackson 5 e Michael Jackson
"The Motown Years"
Universal. CD triplo
Quanto: R$ 54,90
ANÁLISE: Michael nunca mais crescerá
O resto da vida de Michael Jackson começou em 16 de maio de 1983. Foi quando ele deixou para sempre de ser o pequeno Michael dos sucessos do Jackson 5 e se transformou no rei do pop.
Nesta noite, Michael Jackson subiu ao palco de um teatro em Los Angeles para comemorar os 25 anos da gravadora Motown. Começou a cantar "Billie Jean". Foi até o lado esquerdo do palco e voltou deslizando... de costas. Os 3 mil convidados ficaram de queixo caído. Era o "moonwalk", o "passo da lua", que ajudaria a transformá-lo no maior vendedor de discos do planeta. Sua música não era mais para ser apenas ouvida. Era para ser vista.
Impossível pensar na canção "Thriller" hoje sem lembrarmos imediatamente dele maquiado e dançando como monstro no videoclipe. O álbum é o mais vendido de todos os tempos, tendo aberto caminho para ele faturar US$ 1 bilhão na carreira.
Por outro lado, o ex-negro Michael Jackson teve um queda espetacular: algemado numa delegacia, acusado de embriagar meninos por sexo. Apesar de absolvido nos tribunais, nunca mais se recuperou como artista.
Há 25 anos, a vida de Jackson é uma sucessão de nuncas. Nunca será esquecido. Nunca deixará de realizar sonhos. Nunca mais terá vida normal. Nem crescerá, como acontece com crianças na Terra do Nunca.
Ivan Finotti, Jornalista
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