quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Freddie Mercury é impossível de ser substituído, afirma baterista do Queen

Queen + Paul Rodgers - Bohemian Rhapsody (Live at Hyde Park)


"Freddie é impossível de ser substituído" 
Todos sabemos que, naquela noite de 24 de novembro de 1991, quando foi anunciado que a voz de barítono de Freddie Mercury se calara para sempre em Kensington, Londres, não haveria como recompor nunca mais uma das bandas-chave da história do rock, o Queen. Mercury era inigualável e os sobreviventes, o guitarrista Brian May, o baterista e percussionista Roger Taylor e o baixista John Deacon, não conseguiriam seguir adiante com o grupo.

Mas o tempo passou, e o que era temeridade revelou-se realidade. Mesmo sem John Deacon, que está sabiamente aposentado e não topou a parada, Roger Taylor e Brian May resolveram ressuscitar o Queen, que toca hoje e amanhã na Via Funchal, em São Paulo, e no dia 29 na HSBC Arena, no Rio de Janeiro. No lugar de Freddie Mercury, o público verá Paul Rodgers, cantor do extinto grupo Bad Company.

Produzido pela Mondo Entretenimento, o Queen volta ao país 23 anos após sua última e consagradora passagem pelo Brasil, em 1985, durante o primeiro Rock in Rio. A turnê nacional faz parte do lançamento do álbum "The Cosmos Rocks", que marca a volta do grupo aos estúdios depois de 13 anos e é seu primeiro disco sem Freddie Mercury.

O baterista Roger Taylor deu esta entrevista por telefone, do Chile, no início da semana passada, para explicar o que os motivou a reformar o grupo. "Mais do que tudo, é a nossa profissão. É o que fazemos e o que nos sentimos bem fazendo", afirmou o baterista.

Vocês já fizeram mais de 70 shows da turnê de retorno. Como está sendo essa excursão mundial? 
Tem sido algo parecido com um renascimento. Voltar a tocar como o Queen é como redescobrir o prazer de ter integrado aquela banda, de reencontrar a si mesmo. Nós temos as nossas forças criativas intactas, não havia razão para não retomar tudo. Nós somos mesmo o Queen, nós o criamos e tocamos durante anos aquelas músicas.

Há fãs mais radicais que não pensam assim, que acham que é uma traição à memória de Freddie Mercury. Vocês têm enfrentado contratempos com esses fãs? 
Não tivemos reações ruins em nenhum lugar dos 74 shows que fizemos até agora. Na Ucrânia, cerca de 300 mil pessoas foram ver o show. Em cada lugar, o carinho tem sido imenso: Moscou, Paris, Belgrado, Roma. Veja: Freddie é impossível de ser substituído, todo mundo sabe disso. Mas Paul (Rodgers) também tem uma longa carreira na música, tocou em bandas memoráveis, e o próprio Freddie era seu fã. Ele não tenta ocupar o lugar nem imitar. Ele é ele mesmo, e nós estamos tocando as músicas que amamos e que ajudamos a popularizar no mundo todo.

Você lembra da última vez que vocês tocaram tendo Freddie à frente da banda? 
Sim, claro. Foi em 1986, em Naples, Inglaterra. Foi um show muito bom, com uma incrível reação da audiência. Freddie foi fantástico. Era meu melhor amigo, além de ter um admirável senso de humor. Sempre fazia todo mundo rir, era muito engraçado.

Você tem acompanhado o movimento de novas bandas na Inglaterra e nos Estados Unidos? O que tem ouvido de bom? 
Há grandes bandas surgindo, sempre houve. O que noto é que a tendência mais bacana atualmente é a volta do rock'n'roll. Ele está de volta, e isso é ótimo. Gosto de bandas como o Muse, o Foo Fighters. Mas tem uma que gosto ainda mais do que todas, uma banda da Islândia chamada Sigur Rós. Conhece? Eles são um tanto experimentais, mas é um som apaixonado, em movimento, vivo. Adoro essa banda.

O mundo vive uma convulsiva crise econômica. Você tem noção de como ela vai atingir o show biz? 
Bom, eu não entendo muito de economia nem de matemática. Talvez essa movimentação toda, a quebradeira, seja algum tipo de justiça (risos). Acho que há muita irresponsabilidade na condução da economia. É algo da natureza humana, quando há dinheiro em jogo, esquecerem-se das regras, da educação. Mas eu sempre vejo que o show biz é a última área a ser atingida pela recessão. Tenho a impressão de que, se vier uma crise, seremos os últimos a senti-la, porque as pessoas têm necessidade de se divertir, de espairecer.

O que vocês prometem com seu show no Brasil? Tem algo que possa surpreender? 
É um show com todos os clássicos do Queen, porque sabemos que as pessoas querem ouvir essas músicas. Não é só algo nostálgico, porque são canções que surgem sempre novas, como se as estivéssemos redescobrindo. E também temos um disco novo, com composições originais novas. Serão duas horas e meia de show. Nós temos fantásticas lembranças do Brasil, foi o lugar onde fizemos shows memoráveis, então sabemos da responsabilidade. Ninguém sairá desapontado, pode ter certeza.

Criatividade ficou de fora do novo CD 
Jotabê Medeiros 

As faixas de "The Cosmos Rocks", novo disco da banda Queen, foram escritas por Brian May, Roger Taylor e Paul Rodgers no ano passado e no começo de 2008. O início foi com um caráter meio beneficente, tanto que a música "Say It's Not True" foi lançada para angariar fundos destinados a pesquisas contra a Aids, em uma campanha internacional comandada por Nelson Mandela.

As guitarras são bem tocadas, a bateria é das melhores, a voz do cara à frente é boa e bem colocada e potente. Mas então, por que o disco novo do Queen é tão ruim? Bem, por diversas razões, a primeira delas porque é um pop-rock ultrapassado e com letras sem imaginação, mais para Air Supply do que para o velho Queen.

Apesar da excelência dos seus artífices, a criatividade ficou de fora desse novo trabalho, que está sendo lançado no país simultaneamente à passagem da nova turnê do grupo pela EMI (acompanhado de um DVD com uma hora de duração, que traz imagens do show da banda no Japão, aí sim com os velhos sucessos do Queen do tempo de Freddie Mercury).

Peso 
Quando o novo Queen soa mais pesado é bem melhor. É o caso da faixa "Still Burnin'", a única que se salvaria desse lote de 14 canções novas. "Ainda queimando, ainda berrando, ainda dando um rolê. Melhor do que nunca, cara. Ainda dançando, ainda pilotando, mergulhando no céu. O rock'n'roll nunca morre", diz a letra.

Bom, pode ser que o rock'n'roll não morra jamais, mas que ele fica baleado ele fica. Chris Jones, da BBC, escreveu que o Queen era como um híbrido de Led Zeppelin e de Royal Opera House, por conta de sua cozinha de peso e seu senso teatral, operístico. Perdendo-se essa possibilidade, o novo Queen está mais próximo de um travesti em um show de boate decadente imitando seus ídolos, uma Gloria Gaynor com pegada de blues rock.

Há algumas tentativas de crítica social e política, como em "C-lebrity" e "Warboys", mas que soam inócuas, meio tardias, sem fundamento. Os veteranos do Queen e Paul Rodgers têm todo o direito de tentar uma nova vida, e é salutar que tenham resolvido gravar um disco com canções inéditas, inovando com algum tempero reggae ("Call Me") e condimentos tex mex ("Voodoo"). Mas ainda não foi dessa vez que acertaram o ponto de cozimento.

Confira 
Queen Paul Rodgers 
The Cosmos Rocks 
EMI Music 14 faixas
Quanto: R$ 32,90, em média

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