quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A voz e o vigor de Omara

Faixa a faixa, "Gracias", o novo disco de Omara Portuondo, traz canções que ela sempre quis gravar, de "O Que Será", de Chico Buarque, a "Ámame Como Soy", do amigo Pablo Milanés. O encarte é ilustrado com fotos da cantora cubana hoje, aos 78 anos, e registros da infância, dos anos gloriosos como artista, mãe, avó. São seis décadas ao microfone, e Omara quer, mais do que festejar, agradecer. "O meu trabalho eu nunca poderia fazer sozinha".


A faixa-título, que resume esse espírito, foi encomendada ao compositor uruguaio Jorge Drexler. Chico também gravou com Omara sua música, metade em português, metade em espanhol. Assim como Milanés. São duas as músicas do compositor cubano – "Tu Mi Desengaño", tão romântica quanto "Ámame Como Soy", mas sem o contagiante ritmo caribenho.

Omara veio ao Rio para o lançamento e integrou, com cantores brasileiros e africanos, o show de encerramento do "Back2Black", festival que celebrou o continente africano no último fim de semana. Encantou o público, de maioria jovem, com o vozeirão e o vigor – mantidos, explica, com boas noites de sono e nada de festas, bebida e cigarro. Seu único excesso é o pendor por doces.

"La gran cantante cubana" recebeu a reportagem ao lado do filho, Ariel Jiménez, seu parceiro de trabalho. Ele é autor da faixa "Nuestro Gran Amor". Ariel também é responsável, indiretamente, por um momento "bonitinho" do CD (o 24º de Omara, gravado em Havana): ela canta a faixa "Chachita" com a neta, filha de Ariel, Rossio, 9 anos.

A avó tem frequentado o país desde os shows do Buena Viesta Social Club, no início da década, e retornou no ano passado, para participar do disco e dos shows com Maria Bethânia. Ela achou importante incluir o Brasil nessas comemorações dos 60 anos - a presença não é só por intermédio de Chico; começa nos produtores, Swani Jr. (que toca violão no disco) e Alê Siqueira (que fez os arranjos com Swani e os outros músicos que participam do CD, como o contrabaixista Avishai Cohen e o pianista Roberto Fonseca). "Era importante ter este sotaque brasileiro", diz Omara, que, entre setembro e outubro, tem agenda de shows na Colômbia, no Chile e no México.

A voz se prova ainda poderosa em canções como "Vuela Pena" (Amaury Pérez), que ela já havia registrado 35 anos atrás, "Rabo de Nube" (Silvio Rodríguez Domínguez), sucesso antigo gravado por outros artistas, e na tristíssima "Adiós Felicidad" (Ela O’Farrill).

"Yo Vi", versão de "J’Ai Vu" feita por Swami Jr. para a música de Henri Salvador e Modo Michel, abre o CD, e tem o mesmo clima retrospectivo, mas não melancólico, de "Lo Que Me Queda Por Vivir" (Alberto Vera Morua), em que Omara canta que o que lhe resta viver será com sorrisos.

A canção de ninar "Drume Negrita" (Ernesto Grenet) aparece em versão com cheiro de Caribe – participa o músico camaronês Richard Bona, num bonito vocal. (Agência Estado)

Lembrança da mãe é constante em sua vida
São 60 anos de trabalho e Omara quer mais. "Eu agradeço por poder mostrar a cultura do meu país. Cada êxito que eu tive, como solista, viajando por vários países, com o Buena Vista Social Club, ganhando prêmios, festivais, eu lembrava da minha mãe, que um dia me disse: ‘Você vai ser uma grande cantora e representar Cuba em todas as partes do mundo’. Como ela poderia saber, se morreu em 1951 e não viu nada disso?"

Ouça
Omara Portuondo - CD "Gracias"
Biscoito Fino
Quanto: R$ 33, em média


03/09/2009 - (BBC Brasil)

Roberta Pennafort
Rio de Janeiro

Nenhum comentário: