Músico goiano resgata melhor da sua obra em novo disco de inéditas, "Praça Tiradentes"
Na mesma semana em que o Instagram deixou o ‘condomínio de luxo’, Odair José volta à cena. A relação parece um tanto absurda, mas não é. Cutucar preconceitos, tais como o que envolveu a chegada do aplicativo para as classes mais baixas, foi a bandeira do ícone popular, como bem exemplificam suas saborosas crônicas de amor sobre empregadas e prostitutas, todas de rápida difusão e sucesso retumbante. O olhar realista, o discurso direto, não são fruto de tese apurada nas salas de Ciências Sociais. Como um mero observador, Odair canta o que vê ao seu redor, extravasa o sentimento do "povão" e não tem receio de desafiar tabus.
O mais recente deles diz respeito ao próprio reconhecimento de sua obra. Afastado do panteão da MPB por décadas, o tímido cantor goiano conseguiu romper a fronteira do cafona para virar símbolo cult. Tudo começou com o livro "Eu Não Sou Cachorro, Não", de Paulo Cesar de Araújo, e ganhou força com o tributo promovido por artistas da nova geração, de Pato Fu a Los Pirata. "Eu era distante daquilo que tinha feito. Não via meu trabalho com os olhos que vejo agora", avalia. Aos 63 anos, carrega a mesma feição e olhar melancólico de quando era jovem e disputava as paradas com Roberto Carlos.
Graças ao sucesso de "Eu Vou Tirar Você Desse Lugar", Odair logo mudou de vida e virou ídolo das multidões, pronto para desfilar seu arsenal de hits instantâneos, curtidos na prosa popular e fisgados por dores de amor das mais cafajestes. Enquanto Roberto Carlos pregava o namorinho de portão, ele cantava o amor de adulto.
Em seu novo trabalho, aproveitou cada momento de estúdio. Fez sem pressa, queria resgatar o melhor de sua obra. "Gosto da verdade que Odair transmite. É um poeta popular e um melodista inspirado", elogia Zeca Baleiro, produtor da empreitada. "Ele e a minha banda talharam a sonoridade do disco. Eu apenas coordenei o trabalho e pus alguns temperos, como violino, gaita e trombone", diz o músico. Além do próprio Zeca, "Praça Tiradentes" tem músicas de Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown, Chico César e a participação de Paulo Miklos. "O melhor deste disco é que lembra Odair José", brinca o próprio Odair. (AE)
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