quarta-feira, 14 de maio de 2008

Frank Sinatra: A Voz que não se cala

Vídeo: Frank SINATRA -New York New York


A Voz que não se cala


Frank Sinatra, morto há uma década aos 82 anos, era um colecionador de proezas. Como cantor, ele era o cara que, usando sua voz como uma espécie de varinha de condão, conseguia transformar num passe de mágica canções ainda desconhecidas em standards da música americana. E não era só isso: se, por outro lado, resolvia tomar emprestado os clássicos em suas gravações, eles imediatamente mudavam de dono: viravam clássicos de Sinatra.


Por conta da efeméride dos 10 anos de sua morte, há uma enxurrada de produtos Sinatra a caminho. O primeiro título dessa leva chega às lojas esta semana. Trata-se da coletânea em CD "Nothing but the Best" (Warner Music), que traz uma seleção de 22 canções do velho "Old Blue Eyes". A 22ª canção é o aperitivo extra: trata-se de uma versão de "Body Soul" com arranjo novo, jamais lançada anteriormente em disco. Foi um mimo recolhido pelo chefão dessa empreitada toda, Frank Sinatra Jr.

Há outras preciosidades chegando, como por exemplo um DVD contendo sua clássica performance no Royal Festival Hall, em Londres, em 1971. Sinatra gravou muitos duetos, mas esse disco traz apenas um deles: com seu grande amigo brasileiro, Tom Jobim, na interpretação cortante de "The Girl from Ipanema", que Sinatra adorava.

Para os fãs de várias gerações, o cantor continua insuperável. "Não dá para imitá-lo. O Sinatra tinha um grave natural, ele cantava como se estivesse falando, sem fazer esforço. Adorava brincar com as letras, fazia trocadilhos. Mas ele era Frank Sinatra e podia fazer isso", aponta o empresário Gilson Pimentel Muniz, 39 anos.

Nas horas vagas ele encarna o crooner no quinteto Finest Hour, que costuma se apresentar no Jazz Café. Gilson faz parte de uma galeria de fãs mais novos do cantor. "Eu comecei a gostar de Sinatra em 1980. Eu tinha parentes no Rio. Numa das viagens para lá, a minha tia foi ao show dele no Maracanã. Ela voltou tão encantada que acabou me contagiando", relembra.

Com Sinatra em posição de destaque em sua grande coleção de discos, o jazzófilo Luiz Paixão, 83, também se recorda bem desse 1980. Com a diferença de que ele estava lá, no Maracanã, entre os 150 mil privilegiados que assistiram ao único show do cantor no Brasil. "Choveu o dia inteiro, todo mundo ficou preocupado. Mas 40 minutos antes da apresentação a chuva parou. Foi só um intervalo para o show, porque logo depois que saímos de lá, ela voltou."

Para ele, há vozes até mais bonitas que a de Sinatra, como a de Billy Eckstine, mas "The Voice" foi quem mais soube usar e abusar de seus encantos. "Além da técnica vocal, ele sabia dominar o público e corresponder às expectativas dele. Ele deu uma marca própria aos swings, aos blues e às canções românticas que interpretou."

Franzino
Ele era franzino e tímido quando começou a cantar, em 1938, em um restaurante de Nova Jersey. Com sua voz potente, logo chamou a atenção de Harry James, que o convidou para sua orquestra. Mas só ficou famoso mesmo na de Tommy Dorsey. A partir de então, como crooner em várias big bands, Sinatra se tornou um ídolo como Bing Crosby, capaz de fazer as meninas desmaiarem na platéia.

Colecionou mulheres - sua "listinha" tinha, só para citar algumas, Kim Novak, Marilyn Monroe, Natalie Wood... -, mas casamento mesmo, "só" com Nancy Barbato, Ava Gardner (seu grande amor), Mia Farrow e Barbara Marx, com quem ficou até a morte.

Seu envolvimento com a máfia, algo sempre mencionado em suas biografias, é algo que nunca foi provado, assim como suas supostas pretensões comunistas.

Diante da intensidade da sua vida, não há como negar que uma de suas maiores proezas foi a sua capacidade de regeneração na virada dos anos 40 para os 50. Com a imagem desgastada por conta de sua relação com Ava, sua carreira desandou. Mas foi exatamente por conta da dor-de-cotovelo que logo depois, já na gravadora Capitol, ele gravou pequenas obras-primas em forma de recados à amada.

Mas o renascimento veio mesmo com o papel de Maggio em "A um Passo da Eternidade", que lhe garantiu o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Ali, talvez, o mito tenha começado a nascer.

"Desde que comecei a perceber as diferenças entre homens e mulheres, que foi mais ou menos perto do meu primeiro aniversário, usa-se todo tipo de nome para se referir às mulheres. Para mim, são todas ladies"

"Só se vive uma vez. E da maneira que eu vivo, uma vez basta"

Carol Rodrigues
A Gazeta

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