O telefone de Zeca Pagodinho toca. Do outro lado da linha, a atriz Juliana Knust quer saber onde deixar o cachorro alemão que comprou para presenteá-lo. "Traz aqui para a gravadora", responde. Ele vê Mosquito, seu braço direito para assuntos etílicos, e pergunta se quer um cachorro. Resposta positiva, o sambista comenta que depois que Talarico, um outro cão da mesma raça, morreu, e, com a ida para a Barra da Tijuca, há seis anos, ele teve de deixar sua paixão por animais recolhida em algum canto de Xerém.
É justamente em suas paixões que ele centra o trabalho do novo e bom disco "Uma Prova de Amor". "Esse disco é uma prova de amor ao samba, à minha mulher, à religiosidade, ao Rio, ao Brasil e, principalmente, ao subúrbio", afirma.
Apesar de estar sempre cercado de celebridades amigas, Zeca admite sentir muita falta de Xerém e que a Barra da Tijuca é uma necessidade momentânea, até seus três filhos, Eduardo, Elisa e Maria Eduarda, ganharem o mundo. E a música "Sujeito Pacato", de Serginho Meriti e Claudinho Guimarães, traduz esse sentimento: "Todo sujeito pacato / Dado à simplicidade / Quanto mais perto do luxo / Mais longe ele fica da felicidade".
"Aqui tudo começa às duas, três da tarde. As festas começam à meia-noite... E eu não sou mais disso, não agüento. Então, acabo não indo a lugar nenhum. Em Xerém, eu acordava às seis da manhã e meus amigos já estavam todos de pé. Por aqui, acabei aprendendo a ver novela."
Chatice
Xerém, no entanto, também é lembrada em outra faixa, "Normas da Casa", de Zé Roberto, por motivos menos nobres: "Xerém, por outro lado, também estava ficando chato. Tinha vezes em que eu chegava de viagem e já tinha gente na porta, me esperando para mostrar samba, beber cerveja... Na Barra, isso não acontece."
Dos novos amigos, uma ganhou a honra da dedicatória do álbum. Esta lá: "Este disco é dedicado à Regina Casé, gente da gente". Zeca explica o porquê da escolha: "Ela é nossa fã não é de hoje. Já mudou data de aniversário para não perder estréia de show. Só tem história boa. Mostrei ‘Prova de Amor’ para ela e, no dia seguinte, nos encontramos por acaso, na praia. Ela já sabia o samba inteiro. Disse que o pai (Geraldo Casé, radialista e diretor de TV, morto em julho deste ano) estava doente e que cantava no ouvido dele. Eu fiquei de mandar uma cópia do disco para ele, mas não deu tempo."
É dessa forma que Zeca vai dando suas provas de amor e fazendo novas amizades. João Donato que o diga. Os dois se encontraram por acaso no estúdio, e Zeca, que havia lido uma reportagem sobre o compositor em um avião, não pensou duas vezes. Pôs Donato no piano e pediu para ele tocar "Sambou... Sambou" (João Mello/João Donato).
"Tinha ouvido ele tocar a música ali, na hora. Não conhecia. Mas adorei o resultado. Parece que gravamos em um botequim", conta.
Outra participação é a de Jorge Ben Jor em "Ogum". Zeca, cercado de grandes compositores como Luiz Carlos da Vila, Arlindo Cruz, Luiz Grande, Barbeirinho, Marquinhos Diniz, Monarco e Dudu Nobre, mantém seu padrão de qualidade em um disco de grandes sambas.
Ouça
Zeca Pagodinho
Uma Prova de Amor
Universal Music: 16 faixas
Quanto: R$ 27,90
Fonte: Jornal "A Gazeta"
Autor: João Pimentel
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