sábado, 26 de março de 2011

Irmãs Glavão. "Nós ainda cantamos em pé", afirma Mary Galvão

Há quem diga que sucesso é sorte, há quem diga que é destino. “Talento é Deus quem dá, ninguém escolhe”, afirma Mary (leia Meire), 70 anos, a mais velha da dupla “As Galvão”. Poucos artistas têm privilégio equiparado: nascer e viver para cantar. Ela e a irmã Marilene, com 68 anos, se apresentam juntas há 65 anos, desde que, ainda crianças, foram descobertas em Paraguaçu Paulista, em 1947.

Mary e Marilene, com show marcado para este sábado (26) no Sesc Ribeirão, são herança viva do que os historiadores denominam “A Era de Ouro do Rádio”. Muitos dizem que, nos anos 1950, o meio de comunicação desempenhou impacto mais profundo que a TV décadas depois.

As imponentes vozes femininas, após ecoarem por rádios de Assis e Maringá (PR), ganharam fama em São Paulo através da lendária Rádio Piratininga. “Salomão Ésper foi quem abriu nossas portas em São Paulo”, conta Mary Galvão, sobre o apresentador do programa “Torre de Babel”, do qual ela e a caçula participaram e deixaram sua marca.

Lembranças

E se para o rádio o período foi especial, para a música caipira não menos. As lembranças são ainda muito fortes. “Era uma audiência fantástica. Foi uma época muito boa, apesar da discriminação”, afirmou a cantora, contando que as mulheres enciumadas “seguravam firme” os namorados durante os shows.

Eram rotineiras as apresentações ao vivo, bem cedinho nos auditórios das rádios. “Às seis da manhã já tinha gente esperando para ver o programa”. Mas e a voz? “Voz tem, é só precisar dela”. Naquele tempo, afinal, sessões de fonoaudiólogo eram luxo para poucos.

Além das ondas do rádio, o circuito musical dos anos 1950 passava pelos circos. Cenário improvável para a maior parte dos cantores da atualidade, o picadeiro foi celeiro de grandes nomes como Milionário e José Rico, Tonico e Tinoco e, claro, “As Galvão”.

“Era o único meio de se fazer show na década de 1950, até o surgimento da TV”, conta Mary, explicando que o espaço representou um aprendizado muito grande, sobretudo na conduta de palco dos artistas, “por causa do público pertinho, exigente, difícil de agradar”.

Carreira e projetos

Décadas depois, mesmo com a intensa agenda de dez shows mensais, as “Irmãs Galvão” – nome reduzido por numerologia – continuam com a mesma disposição de antes. “Nós ainda cantamos em pé”, brinca a entrevistada, que mora com o marido, o arranjador Mário Campanha, na zona norte de São Paulo.

Para ela, no entanto, músico tem prazo de validade. Cita inclusive um ilustre jogador/cantor como exemplo. “Admiro muito o Pelé, que parou no auge. Ele serve de exemplo para todos os segmentos”, afirma Mary.

Mary confessa, entretanto, que ela e a irmã já tentaram encerrar a carreira três vezes, mas ainda não conseguiram. Sempre um novo projeto vem à tona para mantê-las na ativa.

Um deles é o “Brasil Clássico Caipira”, com o qual rodaram por cinco Estados em 2010 e têm mais 20 shows marcados este ano. O último foi em Brasília. “É de chorar”, relata a cantora, sobre a emoção de ouvir clássicos caipiras em versões orquestradas.

O outro é a gravação de um DVD em parceria com o jornalista José Hamilton Ribeiro, da Rede Globo. As cantoras participam dando depoimentos sobre canções que marcaram a estória do gênero, em continuidade ao livro “Música Caipira”, escrito por Ribeiro.

A gravação de um grande show em Foz do Iguaçu (PR), com duplas como Cacique e Pajé e Mococa e Paraíso, deve encerrar o trabalho, que não tem previsão de lançamento.

Ribeirão Preto

O show em Ribeirão parece mais do que bem vindo para “As Galvão”. A cidade representa muito para elas, pelo carinho dos fãs e pela representatividade da região para a música sertaneja. A última aparição no município faz três anos. “Trabalhar em Ribeirão Preto é maravilhoso. O público é fantástico, de uma fidelidade emocionante e impressionante”, relata Mary.

Para agradar os fãs no Sesc, elas prometem entoar clássicos da carreira como “No Calor dos teus abraços”, “Pedacinhos” e, claro, “Beijinho Doce”, canção herdada das Irmãs Castro, grande influência da dupla. [
Rodolfo Tiengo - EPTV.com]



Beijinho Doce
Tonico E Tinoco
Que beijinho doce
Que ela tem
Depois que beijei ela
Nunca mais beijei ninguém

Que beijinho doce
Foi ela quem trouxe
De longe prá mim
um abraço apertado
Suspira dobrado
Que amor sem fim.

Coração quem manda
Quando a gente ama
Se eu estou junto dela
Sem dar um beijinho
Coração reclama.

Que beijinho doce
Foi ela quem trouxe
De longe prá mim
um abraço apertado
Suspiro dobrado
Que amor sem fim.

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