sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Cat Power, uma gata que pensa

Vídeo:Cat Power - Lived In Bars

Ela é bonita, talentosa e carismática. Mas de nada adiantaria tantos predicados se não fosse, principalmente, inteligente. A julgar pelo seu próximo lançamento, que já está rolando em diversos sites e blogs musicais, Cat Power sabe que uma música boa de verdade será boa por muitos e muitos anos – seja qual for a embalagem. E é isso que a cantora americana traz em "Jukebox": boas canções, algumas famosas, outras menos, mas todas com uma embalagem diferente, charmosíssima e criativa na maioria dos casos.

O disco será oficialmente lançado no dia 22 de janeiro, colocando a bela Chan Marshall como uma das primeiras artistas a lançar um disco em 2008. Mas nada de preguiça: ela já iniciou o ano com o pé no acelerador. Quando se trata de Cat Power, há sempre muita história para se contar. Lançando álbuns desde 1995 sob a alcunha de Cat Power e carregados por uma voz tão marcante que já se tornou parte de sua personalidade, Marshall chegou a um patamar incomum: não é mais uma artista underground, já ultrapassou o rótulo de diva e escolhe seus projetos com propriedade e independência atípicas.

Sobriedade
Após passar por sérias turbulências – incluindo um período negro, em que esteve envolvida com drogas e álcool –, a cantora curte agora uma sobriedade física e psicológica que se traduz em belas música. No caso de "Jukebox", um disco só de covers, é fácil notar que sua abordagem para canções menos ou mais conhecidas é suave, até respeitosa, mas nunca preguiçosa ou amedrontada.

Apoiada pela fantástica banda Dirty Delta Blues, que esteve com ela no Brasil, Cat Power imprime sua marca de maneira tão firme que um desavisado juraria que "New York, New York", clássico dos clássicos, é música dela.

Esta é a segunda vez que Marshall recorre aos covers para mostrar que seu talento, seja quando vai ao indie rock, seja quando se refestela no soul e no jazz, permite que faça tais incursões. Se em "The Covers Record" (2000) ela se saiu bem ainda que sem tanto destaque, "Jukebox" deve retomar o sucesso de "The Greatest", seu último disco de inéditas. Uma boa parte do novo repertório, aliás, foi mostrado em primeiríssima mão aqui em Vitória, no Tim Festival 2007. Quem foi ao show sabe o que vem por aí.

Delicadeza
As versões da cantora vão facilmente do rock ao jazz, passando pelo soul e pelo blues com uma delicadeza que só se vê por onde passa Cat Power. Algumas versões vagam suave por guitarras distorcidas, outras se perdem nos dedilhados de um teclado ácido.

O maior mérito de "Jukebox" é não deixar a dever às versões originais e não ter medo de torná-las diferente. Faixas como "Lost Someone", de James Brown; "I Believe In You", de Bob Dylan; e "Blue", de Joni Mitchell, parecem ter sido escritas sob medida para a voz aveludada de Marshall.

Em "Don't Explain", uma das mais doces canções do repertório, Cat Power se insere totalmente à vontade no time de Nina Simone e Billie Holiday, intérprete e uma das autoras da canção, respectivamente. Há tempo até mesmo para uma regravação própria ("Metal Heart", do disco "Moon Pix") e para uma homenagem a Bob Dylan composta por ela mesma, "Song For Bobby".

"Jukebox" não deixa dúvidas de que aliar uma voz de veludo azul à inteligência na escolha das canções foi um feito excelente de Cat Power, uma mulher que já viu e fez de tudo, e agora vê e faz apenas o que tem vontade.
Coluna B Bruno Reis (Jornal A Gazeta)

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